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UM OLHAR DE DENTRO DA GREVE EM SÃO BERNARDO DO CAMPO

  • Foto do escritor: Cecilia do Nascimento
    Cecilia do Nascimento
  • 8 de abr. de 2023
  • 4 min de leitura

Cartaz entregue na greve dos servidores públicos de São Bernardo. O cartaz é branco com letras vermelhas, com os dizeres: "A partir de 27 de março estaremos em greve. Situação aprovada em assembleia por trabalhadores e trabalhadoras do serviço público municipal, por valorização a quem cuida da população da cidade."
Foto de autoria própria.

Os servidores públicos do município de São Bernardo do Campo estão em greve desde o dia 27 de março de 2023. Os motivos são principalmente pela reposição salarial, visto que não há reajuste de acordo com a inflação desde 2017, reajuste do vale-transporte, que atualmente chega ao máximo de 88 reais (equivalente a menos de duas semanas de trabalho, considerando ainda que o transporte público no município é o mais caro da região), entre outras melhorias como jornada de 30 horas para auxiliares de educação e melhoria no convênio médico.


A cada dia que passa, as adesões à greve aumentam e com elas, seu impacto na cidade e nos veículos de comunicação. A expectativa é que na segunda-feira (10/04) a greve continue, com os ajuntamentos na praça Santa Filomena e outras atividades. A luta dos servidores públicos continua, e como professora da rede pública de São Bernardo, eu sou um deles.


Essa é minha primeira vez participando ativamente de um ato de greve. Já acompanhei de perto os efeitos de outras greves quando era estudante e ouvia que meus professores estavam na rua protestando, ou quando a rotina normal era interrompida por alguma paralização, mas nunca havia participado como nesse ano.


Minha primeira impressão foi de pura euforia. Estávamos nas ruas, causando impacto, atraindo atenção para o movimento, reivindicando nossos direitos. Durante as passeatas, cheguei a encontrar alguns dos meus antigos professores e pensava, com orgulho, que era para isso mesmo que eu havia sido formada. Para ser crítica, para exercer minha cidadania. Pensava até se algum dia chegaria a ver meus próprios alunos em situações assim, enxergando como num espelho os efeitos dos frutos que plantei na educação.


Mas admito que essa euforia não durou muito tempo. Ainda me orgulho do que estamos fazendo, da união da nossa classe e nossa persistência, mas conforme os dias passam, as respostas nunca chegam, sofremos com tentativas de descrédito e ameaças, os questionamentos da população que nem sempre entende o porquê de estarmos fazendo isso (Mais uma semana sem aula? Absurdo!), e muitas outras circunstâncias que tornam a situação de greve cada vez mais desgastante.


Já era desgastante no início, pois não deveríamos estar tendo que fazer barulho para reivindicar o mínimo, que são nossos direitos enquanto trabalhadores. E fica cada vez mais desgastante quando, ao invés de chegarmos ao acordo e à negociação, somos tratados com desprezo e descaso.


O que eu gostaria de frisar neste texto é que greve não é boa para ninguém. Não é boa para as crianças, que ficam sem aulas, não é boa para a cidade que sofre com o trânsito e atrasos, não é boa para a população que fica com o atendimento dos estabelecimentos públicos defasados, e não é boa para nós, que somos obrigados a entrar em greve, pois não vemos outra opção senão causar o desconforto para sermos ouvidos.


Também estamos em desconforto. Caminhamos no sol, sentimos o estresse e a ansiedade de não saber quando a situação será resolvida, nos preocupamos com nosso trabalho e com a comunidade que não estamos tendo condições de atender, nos preocupamos uns com os outros pois sabemos que neste momento somente quem está dentro da greve entende o sentimento que atravessa nossos corações. Como professora, sinto falta dos meus alunos, me preocupo com a perda que estão tendo, sinto falta da minha rotina e me sinto cansada o tempo todo, como se estivéssemos gritando e nossas palavras sendo levadas ao vento.


Mas eu sei que não estão. Sei que estamos causando impacto. E é uma questão de classe e de orgulho entender que, apesar das infelicidades, não estamos errados em fazer greve. Primeiramente, por ser um direito a todo trabalhador (de acordo com a Lei Nº 7.783/89 que você pode ler na íntegra clicando aqui), e por ser um meio necessário. Não seremos silenciados ou acuados, não seremos dispersados ou menosprezados. Reconhecemos nossos direitos e lutaremos por ele.


Me orgulho por fazer parte de uma classe que vai à luta e não se permite ser alienada.

Por essa razão, apesar do cansaço e da ansiedade, sigo sentindo aquela mesma euforia inicial quando penso que, como educadora, posso estar servindo de exemplo não somente aos meus alunos, mas a todos os espectadores da situação atual, que a democracia existe e deve ser defendida. Que o trabalhador tem força, tem voz, e que aos poucos vamos nos libertando das amarras da ignorância de aceitar menos do que nos é por direito.


Hoje e futuramente, me orgulharei de ser um dos servidores públicos lutando nessa greve, não por só um de nós, mas por todos.


Então, da próxima vez que você estiver indo trabalhar ou para algum compromisso e dar de cara com alguma passeata no meio do seu caminho reivindicando alguma coisa, sinta empatia por aquelas pessoas. Torça por elas. Procure entender os motivos que os levaram ali. No fundo, mesmo que pareça ainda remoto, todos esperamos pelo dia em que tais atos não sejam mais necessários e o trabalhador seja tratado com o respeito e a dignidade que lhe é devida.

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