Viver-sentir-expressar-repetir
- Cecilia do Nascimento
- 22 de jul. de 2020
- 2 min de leitura

O que é que tem na arte que nos faz gostar tanto dela?
Já parou para pensar?
Olha a música, por exemplo. Uma turma se junta com uns instrumentos e faz uns barulhos mais ou menos coordenados (mais ou menos porquê se decidiram o que é coordenado, outra pessoa podia muito bem decidir que o descoordenado é que era coordenado) e nós colocamos esse som para seguir tudo o que fazemos. Vamos para o trabalho ouvindo, gastamos dinheiro com ingresso de show e meios para ouvir mais.
Para quê? Seria a música algo necessário à vida? Como comida ou necessidades básicas?
As artes plásticas são outro exemplo. São desenhos, imagens, retratos que podemos ver com nossos próprios olhos, mas escolhemos ver em uma tela numa escala bem menor. Alguns nem são imagens que podemos identificar, só um emaranhado de formas aparentemente desconexas e nós colocamos elas em pedestais sob a avaliação de milhares de dólares, dispomos elas pelos muros, nas nossas roupas, onde quer que dê para colocar.
Novamente te pergunto, por quê?
Por que tratamos essas coisas como necessárias? Por que será que, no decorrer da história humana, a arte tem nos acompanhado como ar para respirar ou água para beber?
Me peguei refletindo sobre tudo isso enquanto ouvia uma música na volta para casa, após deixar um emprego que não queria deixar, com a cabeça cheia de dúvidas e o coração apertado o suficiente para que eu não conseguisse dizer nada. Me senti em um filme quando começou no rádio uma música que serviu perfeitamente de trilha sonora.
A arte me entendeu.
Como artista, devo dizer que não são raros esses momentos. A arte sempre entende e é por isso que precisamos dela.
Gostamos tanto da arte porquê viver é sentir e sentir é se expressar. Imagine quanta loucura faríamos se não tivesse a música certa, o retrato certo, a arte certa para o que queremos dizer? Tenho quase certeza que então inventaríamos a arte para se explicar por nós.
Precisamos nos expressar, ouvir e sermos ouvidos, nos sentir compreendidos. Precisamos que aquela música nos ajude a dizer o que estamos sentindo e que aquela imagem nos traga memórias que não queremos esquecer. A importância na arte está em como ela define a vida tanto quanto a representa e enquanto uma existir, existirá a outra necessariamente.
É isso que fazemos. Vivemos, sentimos, expressamos e apreciamos. A arte é a marca externa que tudo isso deixa em nós.
Finalizo citando algo que Ferreira Gullar uma vez disse, que a arte existe porque a vida não basta, mas eu penso que, pelo contrário, a arte existe porque a vida é demais.
A arte nasce porque a vida transborda.
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